ELA FAZ: A mulher na Construção Civil, oportunidades e enfrentamentos.
- Lívia Viana
- 10 de out. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de fev. de 2023
Sou Lívia Viana, tenho 43 anos, administradora, engenheira civil e empresaria há 11 anos do ramo da construção civil através da indústria de premoldados Predmix. O propósito que me fez abrir a startupEla fazem 2020 foi o de capacitar e inserir as mulheres no mercado de trabalho da construção civil. Esta vontade surgiu depois de ouvir a necessidade das que se encontravam em situação de vulnerabilidade social e precisavam de uma oportunidade para transformarem sua vida.

Então busquei me aprofundar no assunto, encontrar as mulheres que estavam no mercado e entender o que elas precisavam para conseguir ingressar no setor da construção. Também ouvi das pessoas o que elas esperavam das mulheres que fossem encanadoras, pedreiras, pintoras, eletricistas para contratá-las para suas empresas ou casas.
Os primeiros dados levantados foram que o papel ocupado pela mulher no mercado de trabalho vinha crescendo, mas ainda havia muito para se conquistar. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil poderia expandir sua economia em até R$ 382 bilhões ao longo de oito anos, isso dependeria de aumentar em 1/4 a inserção das mulheres no mercado de trabalho até 2025.
Outro levantamento divulgado pelo Ministério Público do Trabalho em março de 2019 concluiu que o Maranhão liderava o ranking de mulheres resgatadas em situação de trabalho escravo. De acordo com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Rafael Silva, os homens são vítimas, principalmente, nas áreas rurais e as mulheres na região urbana. (Fonte: http://abet-trabalho.org.br/ma-e- o-estado-com-mais-mulheres-em-situacao-de-trabalho-analogo-ao-escravo/).
Com base nos dados apontados até aqui pude perceber que os desafios que o Nordeste e demais regiões do país possuiam (e possuem) com a inserção da mulher no mercado de trabalho seja na condição de CLT ou como prestadora de serviços, não trata somente de preferências de gênero, mas de todo uma cultura de assédio e violência que infelizmente está enraizada e normalizada no mundo do trabalho.
Na ausência de políticas pública mais abrangentes e firmes, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada, precisam cada vez mais se envolverem nessas discussões e darem alternativas concretas para que haja um equilíbrio e um cenário mais justo e igualitário.
No Maranhão, a distribuição percentual das trabalhadoras no mercado formal segundo as grandes áreas de atividade, das mulheres ocupadas em empregos formais, em 2018, 2,81% está na indústria, 0,82% estão na construção civil, 16,95% estão no comércio, 78,88% estão em serviços, 0,54% estão na agropecuária. (Fonte: http://relatoriosdinamicos.com.br/mulheres/)
Além do mais, demonstra-se que o setor da construção civil é um dos que apresenta menor índice de mulheres participando nesta vasta cadeia produtiva.
Foi neste momento que me perguntei!
A oferta de cursos de capacitação seria suficiente para mulheres na construção civil? Seria esta uma das soluções para ajudar a diminuir a desigualdade de gênero na sociedade brasileira?
Foi então que me propus a ajudar a capacitar as mulheres, expandir e promover a sua inserção no trabalho. E mais além, é essencial desenvolvermos uma comunicação estratégia de sensibilização dos empresários e colaboradores que vá de encontro a uma transformação cultural nestas organizações e na própria sociedade. Eu acredito que a equidade de gêneros no mercado da cadeia produtiva, iminentemente composto por homens, quanto para o mercado de serviços autônomos, pode contribuir diretamente para o empreendedorismo e a regularização de atividades profissionais de mulheres via cooperativas ou coletivos, além de fortalecer redes entre as alunas e as instituições parceiras do projeto e comunidades, além de geração de renda e riqueza para a região.
Eis alguns impactos sociais com o projeto Ela Faz: - Capacitação da mão de obra de mulheres para prestação de serviços;
- Mapeamento de vagas e oportunidades de recolocação profissional das participantes;
- Geração de riqueza e estímulo ao empreendedorismo com oportunidade de formação de cooperativas;
- Profissionalização e regularização de contratação de mão de obra feminina;
- Valorização da mão de obra local e feminina e geração de benefícios para a sociedade.
Não é nenhuma novidade que o setor da construção civil é um dos que apresenta menor índice de mulheres participando nesta vasta cadeia produtiva. Por isso lançamos uma oportunidade de capacitação para elas em 4 áreas da construção civil. Com um dia de divulgação por meio de nossas redes sociais, tivemos diversas interessadas, preferencialmente para as atividades de eletricista predial e pintora de obras.
No entanto, o mais difícil estava por vir: a permanência dessas mulheres no mercado de trabalho. Aos poucos fomos percebendo que a cultura organizacional precisava estar preparada para receber estas mulheres e isso foi algo que não encontramos.
Logo que assumimos o desafio de entrar nas obras com as profissionais, percebemos que elas necessitavam de um acolhimento. Muito inseguras, precisavam validar cada ação e traziam dentro de si, traumas e limitações de imposições de comportamentos, desde a infância, que privavam suas liberdades de serem o que quisessem.
Capacitamos 200 mulheres e conseguimos inserir 60% delas no mercado de trabalho, pois unimos o suporte psicossocial para que pudessem exercer todo o potencial, colocando em prática a liberdade, criatividade e desempenho com segurança nas suas atividades. Também procuramos conscientizar os empresários que um banheiro feminino em obra, um diálogo que estimule opiniões diversas, uma politica de desenvolvimento e remuneração de carreira equitativa e valorização da paridade, tornam a organização alegre, produtiva e lucrativa.
Por isso hoje, também estamos propondo um trabalho de consultoria que propusesse ações para uma transformação cultural nas organizações, visando tornar aquele espaço um ambiente mais inclusivo e diverso, que acolhesse e apoiasse as mulheres.
Sabemos que ainda temos muito a fazer e que devemos nos fortalecer no propósito de sermos agentes de transformação através de uma mudança de cultura social, capacitação e realização de conexões para a formação de uma rede que possa nos ajudar a atingir o objetivo deste Projeto. Assim seguiremos enquanto Deus quiser.
Comments